saudades da floresta

Nessa coleção, Adriana de Oliveira é convidada a se reunir com pessoas de diferentes posições em quilombos no Pará para narrarem as suas vidas. Os quilombolas pensam sua vida numa relação crítica ao desenvolvimento econômico de Barcarena e do país.

Saudades da floresta: memórias de vida e luta da comunidade quilombola São Sebastião do Burajuba

Escuta do Tempo • 152 páginas • 2021

Saudades da floresta: memórias de vida e luta da comunidade quilombola Boa Vista/Cupuaçu

Escuta do Tempo • 152 páginas • 2021

Os livros foram publicados em cumprimento da compensação ambiental do Programa de Salvaguarda da Cultura Tradicional e Quilombola, prevista no Programa Básico Ambiental Quilombola (PBAQ) no processo de licenciamentoda Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS-PA), referente ao empreendimento Linhas de Transmissão Vila do Conde-Marituba-Castanhal da Equatorial Transmissão.

Dona Antônia Gomes Pinheiro e seu Adair da Cruz Pinheiro. Canjica de milho cozida no fogo e no afeto. CQ Boa Vista/Cupuaçu, Barcarena, Pará, 2021.

Reunidos em família, os quilombolas rememoram os modos tradicionais de pescar e caçar, de formar sítios e fazer roçados. Os retiros e a produção de farinha, os alimentos tradicionais, como o beiju-chica e o peixe frito com açaí, são o tempo todo contrastados às opções prontas, caras e geralmente pouco nutritivas dos supermercados. Os rituais religiosos, como as festas de santos e as pajelanças são lembrados com entusiasmo. Os modos de personalizar as casas do projeto do governo federal Minha Casa Minha Vida são conquistas importantes que, de jeito nenhum, significam que eles queiram morar em lotes de 10x30m. As histórias de terror estão relacionadas a entidades sobrenaturais como as visagens mas, principalmente, com os empreendimentos que não param de assombrar. Não é por acaso que a saudade da floresta do “tempo dos antigos” provoca o choro em muitas pessoas.

Pequenos pescadores e matapis com camarões. Grandes navios de carga e o porto da Hidrovias. Praia de Itupanema, Barcarena, Pará, 2021.

O contexto

Nas últimas décadas, a cidade de Barcarena, no Pará, foi sendo ocupada por um gigantesco complexo minerador-portuário-urbanístico-industrial e novos empreendimentos não param de chegar. A grande transformação dessa ilha a nordeste do estado paraense se iniciou na década de 1970 com a instalação da Albras Alunorte, como parte do Grande Carajás.

Esse programa de desenvolvimento empresarial e governamental se sobrepôs a áreas habitadas por inúmeras populações tradicionais com a construção do porto da Vila do Conde e do núcleo urbano da Vila dos Cabanos.

Estima-se que, por conta destes empreendimentos, mais de mil famílias tenham sido expulsas dos seus lugares de origem. Com base na reivindicação de direitos específicos, com o apoio do Ministério Público, universidades e ONGs, várias famílias têm voltado aos seus territórios tradicionais.

E a luta pela vida continua num contexto de extrema degradação ambiental, como testemunha, por exemplo, o Murucupi, rio que apresenta hoje uma quantidade de alumínio mais de 36 vezes acima dos valores considerados normais pela legislação brasileira.

A Comunidade Quilombola Boa Vista/Cupuaçu foi certificada pela Fundação Cultural Palmares em 2016 e, no mesmo ano, abriu junto ao Incra o processo de titulação definitiva de seu território. Cerca de 350 famílias aí vivem atualmente.

A Comunidade Quilombola São Sebastião do Burajuba foi certificada pela Fundação Cultural Palmares em 2013 e, em 2016, abriu junto ao Incra o processo de titulação definitiva de seu território. Cerca de 320 famílias aí vivem atualmente.